Campinos do Ribatejo - Simbolo maior de portugalidade
Porque nunca é demais enaltecer e defender a figura inolvidável do Campino do Ribatejo, um dos mais destacados símbolos da cultura e da história de Portugal, junto se transcreve, com a devida vénia, mais um contributo nesse sentido:
«
Desde há muito que se encontram testemunhos sobre a existência dos
Campinos nas lezírias ribatejanas, como o comprova este transcrito de
Oliveira Martins dos finais do século XIX: "(...) chegamos ao Tejo
(...). Nele com efeito o campino nos traz à ideia o tipo dessas raças da
África setentrional, Líbios ou Mouros cujo sangue anda misturado nas
nossas veias." … "A cavalo, de pampilho ao ombro, grossos sapatos
ferrados, gorro vermelho na cabeça, o Ribatejano, pastoreando os
rebanhos de toiros nas campinas húmidas e vicejantes, é como um beduíno
do Nilo (...) ".
De
facto, é muito provável que já existam campinos desde os tempos das
primeiras Casas Agrícolas, que necessitavam de pessoas para guardarem e
cuidarem dos seus animais.
Depois,
com a implantação do Estado Novo em Portugal, o campino até então um
mero e simples trabalhador rural, foi transformado num arquétipo social,
uma referência simbólica onde a Nação se reconhecia e através do qual
se procurava dar às pessoas um motivo de orgulho nacional. Essa
transformação reflectiu-se no traje de festa, que mais não passa de uma
farda fornecida pelos patrões e devidamente identificada com o monograma
da Casa Agrícola, para que os seus campinos os representassem com garbo
nas feiras e festas onde se deslocavam com o seu gado.
Assim, distinguem-se claramente dois tipos de trajes:
-
a roupa que é usada nos dias de trabalho (no dia-a-dia de um campino)
é, regra geral, constituída por jaqueta, colete, cinta preta e calça
comprida até aos sapatos;
-
o traje que é utilizado nos dias de festa, que é o que, de forma geral,
o público mais rapidamente identifica como sendo do Campino. Este traje
de festa é composto por calção com abotoadura lateral e ajustados à
perna por botões, seguindo o modelo de traje de corte do sec. XVIII. O
colete tem como principal característica a cor vermelha e a configuração
do decote que deixa antever a camisa engomada. No traje de campino a
camisa é simples, embora com carcela dupla que esconde os botões. Este
conjunto é acompanhado por uma faixa vermelha e um barrete verde e
vermelho. A jaleca tem a configuração de uma casaca, não sendo abotoada,
muito embora se ajuste ao corpo e tenha botões de ambos os lados.
O conjunto dá ao seu utilizador um ar afidalgado e a atitude arrogante de um homem que tem brio na sua profissão e a coragem de enfrentar o touro de lide.
O conjunto dá ao seu utilizador um ar afidalgado e a atitude arrogante de um homem que tem brio na sua profissão e a coragem de enfrentar o touro de lide.
De
olhar atento e porte autoritário o Campino assegura-se de que a sua
árdua missão seja cumprida: "O gado olha-lhe a vara na campina deserta. É
ele (Campino) que o dirige no voltear do cavalo, que o guia, que o
conduz.
A
sua figura de homem simples do campo, trouxe até ao nosso tempo a
memória da funda relação que temos, nestas terras da lezíria, com
cavalos e gado bravo. É no campo que tudo começa, nasce, cresce, vive,
faz-se. Esse é o mundo do campino, é aí que se sente bem, no meio dos
animais.
Muitos dos nossos campinos, que atravessaram mais de metade do século nesta sua profissão, começaram nas tralhoadas, quando os toiros se amansavam para servir na lavragem. Em moços foram rabeiros, assim chamados por trabalharem todo o dia com a rabiça da charrua, e brochavam os animais, forçando-os a admitir a canga.
Muitos dos nossos campinos, que atravessaram mais de metade do século nesta sua profissão, começaram nas tralhoadas, quando os toiros se amansavam para servir na lavragem. Em moços foram rabeiros, assim chamados por trabalharem todo o dia com a rabiça da charrua, e brochavam os animais, forçando-os a admitir a canga.
Era
isso trabalho simples, se assim se pode dizer. Porque tarefa difícil,
até custa a acreditar que fosse possível fazer, era levar o gado,
através dos campos, os colocar a salvo das águas do Rio Tejo, que no
Inverno alagavam as terras baixas do Ribatejo. Mais de duzentas cabeças,
toiros, novilhos, cabrestos, por três ou quatro dias de caminho, a
fugir aos povoados para evitar azares.
Era
um ciclo que se repetia, ano após ano, tal qual, seguindo o mesmo
caminho, em chegando a Primavera e o regresso no Verão. Ficavam as vacas
e os bezerros de mama. Tudo o mais ia-se embora para a imensidão das
pastagens mais distantes do rio.
Esta
vida de campino não tinha cama nem esteira, não sabia de conforto. Nem
de festas, nem de nada. Era trabalho e uns copos, bebidos em grupo
pequeno, no meio dos animais. E alguns sustos, às vezes, quando um toiro
tresmalhava, se deixava furar um cavalo ou se apanhava uma cornada no
corpo que Deus lhe deu.
Era uma vida difícil, mas da qual muitos têm saudades.
Se
a vida do campino era dura, a da mulher não era melhor, pois cabia-lhe a
ela cuidar da casa, dos filhos e ainda o trabalho do campo, suportando
os longos períodos de ausência do marido e educando os filho para
seguirem as mesmas pisadas do pai.
O
traje do dia-a-dia era naturalmente simples, mas resistente, para
suportar o desgaste do trabalho do campo. No entanto, é no traje de
festa que a mulher do Ribatejo se aplica, apresentado saia rodada
através do emprego de largas pregas laterais desenhando maior volume
para trás. Sob a saia usa saiote e colotes, que apresentam um ligeiro
folho de bordado inglês, conferindo ao conjunto grande requinte. A blusa
de gola redonda, rematada com folho de bordado inglês, tal como na
carcela e nos punhos. É na confecção do avental que a mulher se esmera,
demonstrando os seus dotes de bordadeira, e a sua imaginação na escolha
dos bordados e na confecção do modelo. Usa meias de renda branca e
sapatos de carneira de cor natural.
Helder...adorei rever este artigo com a história verdadeira dos nossos Campinos
ReplyDeletemuito bom...abraço.